segunda-feira, 28 de junho de 2010

Fleischeggs :: do fermento ao ovo pasteurizado

Em um dos meus estágios em confeitaria, lembro-me vividamente de sofrer horrores por fazer fios de ovos com 6 litros de gemas. Sim, 6 litros de gemas... Se cada gema tem, em média, 20ml, aproximadamente 300 ovos foram sacrificados em prol de êxtase gustativo. Mas calma, eu não fiquei separando essas centenas de ovos! As gemas vinham embaladas à vácuo. Para quem não trabalha no ramo era estranhíssimo pensar nisso, mas na indústria alimentícia ovos pasteurizados é item obrigatório.

 
A embalagem eram enorme sacos plásticos, mais ou menos como aqueles saquinhos de soro, mas enormes e nada práticos. Dados técnicos e integridade da embalagem eram as únicas exigências da indústria. Usar ovos pasteurizados e embalados à vácuo diminui o risco de contaminação e aumenta o rendimento, uma dupla indispensável. Isso sem contar com os ganhos logísticos e em padronização, fundamentais. Mas será que um dia desses a praticidade dos ovos embalados chegará às mãos de nós, pobres mortais que querem simplesmente fazer um quindim sem ter que fazer suspiros?

 
Ao folhear uma dessas deslumbrantes revistas de comidinhas, dei de cara com um anúncio de Fleischeegs. A Fleischmann chama minha atenção faz algum tempo. Desde pequenina eu sabia que fermento para fazer pão tinha que ser Fleischmann. Eu não sabia a diferença de fermento fresco e fermento em pó. Eu sabia a diferença entre o Royal e o Fleischmann. Tudo que eu pensava ao ouvir Fleischman eram fermento! Claro que eu já tinha visto algumas misturas para bolo no supermercado, e achei genail. Bolo, pão, fermento... Faz sentido, não? Mas ovos?! Intrigada pelo mundo das marcas e suas extensões (coerentes até que se prove o contrário), decidi aprofundar minha investigação.


Buscando expandir seu portfolio, a AB Brasil, empresa que detém a marca Fleischmann no Brasil, comprou a empresa SOHOVOS, que há 35 anos fornece ovos e derivados para a indústria alimentícia. Com essa aquisição estratégica, decidiram unir a expertise da SOHOVOS à força da marca Fleischmann e criaram a Fleischeggs. A logomarca faz imediatamente a conexão entre as duas marcas e mostra a clara intenção da AB Brasil em se aproveitar dos equities contruídos pela Fleischmann em seus 78 anos de atuação no Brasil.

Mas além da estratégica (e sábia) escolha na extensão do portfolio - "temos a solução completa para a sua confeitaria" -, o investimento em design chamou bastante minha atenção. Eu disse que as características buscadas pela indústria eram as informações técnicas precisas e a embalagem íntegra. Fleischeggs fez embalagens longa-vida, que são mais fáceis de armazenar do que os enormes sacos disformes que eu usava. As caixinhas de 1 litro fazem com que essa seja uma ótima opção para estabelecimentos menores, ou até mesmo para o consumo caseiro.

As informações são claras, organizadas e feitas de maneira a mostrar a preocupação com pequenos empresários, que utilizam quantidades menores e podem ter menos experiência no uso de ovos pasteurizados. Os produtos têm também certificado Kosher, um diferencial que não encontrei em seus possíveis concorrentes. E não pense que são apenas ovos... Já tem a linha de sobremesas prontas: quindim, fios de ovos, pudim de leite e pudim brigadeiro.



Devo confessar que mesmo após pesquisar, fiquei com algumas perguntas sem resposta...
  1. Comunicar em revistas como a Prazeres da Mesa, uma publicação que não se dedica exclusivamente à indústria (muito pelo contrário), um indíciio de que o produto chegará à gôndolas dos supermercados?
  2. Seria esse investimento em design de embalagem mais um indício de que eles pretendem ganhar mercado vendendo Fleischeggs também para nós, reles comedores de quindins?
  3. É viável o investimento para colocar o produto nas gôndolas de mercados?
  4. Quanto teriam que gastar para educar o consumidor a um produto tão desconhecido?
De acordo com o site, o produto é encontrado em distribuidores, apenas para padarias, confeitarias e indústrias. Mas buscando na internet também é possível encontrar o produto em atacados. Uma decisão acertada para a introdução de um novo produto. Vou ficar de olho...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sorvetes e mais sorvetes

Ainda não conheci uma pessoa que não goste de sorvete. Tenho amigos que não gostam de chocolate, que deprezam batata-frita e que passam longe de pizza, mas nenhum conhecido meu cortou o sorvete de sua lista de gostosuras. Claro que quando a gente sente muito frio pode até negar (temporariamente) um belo Häagen Dazs, mas essa recusa não dura muito tempo.

Para os mais aficcionados, como eu, quase toda promessa de sorvete vale a pena. Eu adoro até a ideia do picolé de groselha na beira da praia, nem que seja para detestar e pensar que na infância qualquer porcaria vermelha é a escolha definitiva. E cada um tem o seu sabor preferido. Eu quase sempre escolho flocos, minha mãe quase sempre escolhe nozes, um dos meus irmãos escolhe o clássico creme e o outro irmão comeria uma sorveteria inteira, indiscriminadamente. Mas não é por isso que estamos aqui...

Faz muito tempo que a divisão "Kibon ou Yopa" não existe mais. No fundo, no fundo, poucas pessoas conseguiam distinguir as duas "marcas-mãe" e só lembravam da marca do produto. As pessoas preferem Chicabon, mas geralmente ficavam na dúvida sobre quem fabrica essa maravilha. Muitas vezes minha mãe chegava em casa, feliz da vida, com um pote de sorvete de flocos para me animar. Muitas vezes ela se frustrava ao descobrir que minha prferência havia ficado na loja. "Ah, mas é tudo tão igual! Vou ter que começar a levar a marca escrita num papel?!".

Há algum tempo eu comecei a investigar as preferências de amigos e fiz felizes descobertas. As duas marcas que mais me chamam a atenção têm posicionamentos opostos. M-E-S-M-O.

A Ben & Jerry´s é uma marca de sorvetes artesanais divertidíssima e você corre o risco de passar horas fuçando no site deles (se você, como eu, não tem a opção de sair correndo para comprar um). Absolutamente tudo na comunicação segue o conceito fun, da descrição da empresa aos nomes dos produtos. Uma bela construção de marca. Seria impossível você sair para comprar um Ben & Jerry´s e voltar com um Kibon.

Durante a campanha eleitoral do Obama, no calor escaldante de Washingnton, eles lançaram uma edição limitada chamada "Yes, Pecan", com a foto do Obama e tudo! A única discrepância apontada por quem viveu esse momento foi que o sabor vendido nos EUA era diferente de outros países. Ao meu ver, ambos têm descrições de dar água na boca - "Amber waves of buttery ice cream with roasted non-partisan pecans" vs. "Chocolate ice cream with white and dark chocolatey chunks with pecans, walnuts and chocolatey covered almonds", mas o povo gosta de reclamar!

Agora, se você quiser um sorvete The Icecreamists, prepare-se para uma experiência diferente. Você pode ter vivido algo parecido entre quatro paredes (claro que não estou contando com o público mais ousadinho), mas eu não conheço outra marca que tenha assumido o lado sensual do sorvete como eles. Essa boutique de sorvetes - como eles se entitulam - tem uma proposta ousada, subversiva, irreverente. Mesmo sendo radicalmente diferente de Ben & Jerry´s, o conceito está muito bem definido e presente em todas as manifestações da marca. O clima roqueiro está presente em tudo e você pode, inclusive, fazer download de músicas pelo site. Vale a pena invetir algum tempo no site dos caras... e viajar até Londres!


terça-feira, 22 de junho de 2010

O domínio da comida

Até onde uma marca deve avançar rumo a outras categorias de produto? Seria o céu o limite? Cada vez mais acredito que o segredo é a coerência, e não a consistência. Se a empresa souber explicar exatamente o que a levou a tomar tal decisão... Foi assim que a comida deixou de ser "apenas" comida. Você pode vestir comida, passar comida no corpo ou usar comida em volta do seu pescoço (ou quase isso). É o domínio da comida.

Vejam a Dylan´s Candy Bar Re-Treat. Essa linha de cosméticos foi criada por Dylan Lauren - a filha de Ralph Lauren. A Dylan´s Candy Bar é a maior loja de doces de New York e agora também tem roupas e cosméticos sob a mesma marca e seus produtos são encontrados em outras lojas como Bloomingdales e Sephora.

Tudo indica que cosméticos baseados em doces começaram com os batons e protetores labiais. Faz todo o sentido, afinal, é algo que você coloca na boca e fica sentindo o cheiro e gosto quase o tempo todo. Alguns ingredientes, como a baunilha, aparecem há tempos tanto em creme hidratante quanto em crème brûlée. Mas agora os doces estão em outras categorias de produtos de outra forma: linhas inteiras de produtos têm nome, cheiro e aparência de doce. Isso significa que você não deve estranhar se alguém te oferecer um Birthday Cake Batter Soda Pop Shower Gel para seu banho, ou então um Chocolate Cupcake Body Smoothie Lotion para hidratar sua pele. Uma questão de gosto.


Mania de brigadeiro

Culpada! Eu confesso: meu doce preferido é brigadeiro. E como milhares de pessoas, estou feliz da vida com a onda de lojas especializadas nessa maravilha.

A primeira a chamar minha atenção foi a Maria Brigadeiro, um ateliê que fica numa vila de Pinheiros. Lá eles atendem com hora marcada e você é envolvido numa experiência que vai além dos complexos diversos sabores que você provará. Mas se você é uma daquelas pessoas que valorizam a praticidade (ou está naquela correria infernal), pode fazer sua encomenda por telefone e optar por recebê-la no conforto da sua casa. E pode pedir sem medo: a qualidade dos brigadeiros é inquestionável e as embalagens são lindíssimas.

Seu maior problema será escolher entre os sabores clássicos, vintage, castanhas, etílicos, exóticos e brasileiros. Em cada uma dessas linhas você encontra um sabor mais tentador que o outro! Para a tortura de todos nõs, são mais de 40 sabores. Estou certa de que essa noite sonharei com o peanut-butter: chocolate ao leite com peanut-butter e coberto com farofa de amendoim. Ou será com o de grappa? Ou o com o noir? (eu poderia seguir nisso por toda a eternidade)

O site dele é simples, eficaz e transmite o concieto muito bem. Só acho que falta um pouco (sim, um pouquinho mesmo!) de appetite apeal nas fotos. Claro que já vamos induzidos pelo conhecimento que temos do fantástico sabor que um brigadeiro pode ter, e por isso talvez não chegue a ser um problema. E talvez eu esteja só em minha opinião...

Esteja preparado para pagar um alto preço. E não digo caro, porque caro é quando você compra algo por um preço superior à qualidade do produto. Muita gente acha que é um absurdo cobrar "esse preço" por um "mero docinho". Não é. A composição do preço é algo complexo e deve-se considerar tudo o que envolve a experiência que você tem com a marca. Sempre que me falam de composição de preços, lembro-me da aula na faculdade em que o professor perguntou: quem aqui pagaria dois mil reais por uma batedeira? Só eu levantei a mão, enquanto a sala toda me olhava perplexa. O preço tem componentes emocionais, inclusive. Eu preciso de uma batedeira phodástica, porque eu amo cozinhar, amo design, amo a história da Kitchen Aid e... Dane-se! Ela vale e ninguém vai me provar o contrário.

Voltando ao brigadeiro... Depois surgiu outra loja, a Brigaderia. Ainda preciso fazer uma visita, provar os produtos e etc... Alguém se habilita? Minha proposta é ir e voltar pra casa à pé, para não sofrer efeitos colaterais indesejados.